🔎 Fakes sobre Moraes incitam atos do 7/9

#151: Desinformação mina credibilidade do ministro e mobiliza para manifestações no feriado

Oi. Marcela Duarte, gerente de Produto, novamente em dupla com Nathália Afonso, analista de Projetos Editoriais, para trazer a narrativa sobre a temperatura do Sete de Setembro, às vésperas do feriado: as peças desinformativas sobre Xandão que estão ajudando a mobilizar os atos pelo país.  Aliás, leia logo antes que vire história. Boa leitura!

---

Sete de Setembro despeja novas narrativas falsas sobre Moraes nas redes sociais

Manifestações programadas por políticos de direita para o Sete de Setembro têm como fio condutor o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A atuação de Moraes vem sendo questionada desde o governo Jair Bolsonaro, e o embate com o dono do X, Elon Musk, motivou novas peças desinformativas envolvendo o ministro.

Publicações compartilhadas no WhatsApp passaram a indicar que a jornalista Marília Gabriela e a deputada americana María Elvira Salazar teriam criticado Moraes após o episódio com Musk.

No primeiro caso, a informação é falsa. Um vídeo compartilhado no WhatsApp mostra uma mulher dizendo que Moraes é um “juiz revestido de todo poderoso” que “jogou inocentes em calabouços” e “dilacerou milhares de famílias”. A legenda aponta que a mulher no vídeo seria a jornalista Marília Gabriela. Foi fácil identificar esse conteúdo como falso.

A mulher do vídeo é Regina Velloso, que se apresenta em seu perfil oficial do Instagram como “mentora e líder”. Ela publicou o vídeo no dia 14 de agosto em sua conta. 

Esta não é a primeira vez que Regina é confundida com Marília. Em janeiro de 2023, a Lupa desmentiu um outro boato que dizia que a jornalista teria feito críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na realidade, quem estava fazendo as críticas era Regina.

“Não merece nem um comentário para não propagar essa bobagem", comentou Marília Gabriela sobre o episódio para a Folha de S.Paulo. 

No segundo caso, o conteúdo está fora de contexto. No dia 7 de maio, durante uma sessão da Comissão de Assuntos Exteriores do Congresso dos Estados Unidos, a deputada María Elvira Salazar criticou as ações de Moraes sobre a derrubada de posts desinformativos. Ela aproveitou para mostrar uma foto do ministro enquanto fazia o seu discurso. 

O vídeo de maio passou a circular novamente em agosto, após o episódio entre Moraes e Musk, para indicar que a deputada americana também estaria descontente com a situação no Brasil. A Lupa sinalizou que esse post foi gravado dois meses antes do último embate entre o ministro e o dono do X.

Em ambos os casos, o objetivo é ferir a credibilidade do ministro.

Alexandre de Moraes já acumula 22 pedidos de impeachment no Congresso Nacional. A previsão é que mais um pedido desse tipo seja enviado na próxima segunda-feira (9). Alguns parlamentares como os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP), Evair de Melo (PP-ES) e Marcel van Hattem (Novo-RS) utilizaram seus canais de Telegram para incentivar seus eleitores a irem para as ruas no dia 7 para pedir o impeachment do ministro, conforme mostra o LupaScan, ferramenta desenvolvida pela Lupa para monitorar políticos em exercício de mandato.

Elon Musk não ficou de fora e passou a reagir com emojis em postagens que incentivam os atos do Sete de Setembro.

Há alguns anos, o Sete de Setembro é marcado por uma enxurrada de ataques e distribuição de informações falsas nas redes sociais. A Lupa estará de plantão para checar conteúdos enganosos. Viu algo e ficou em dúvida da veracidade? Envie pelo número +55 (21) 99193-3751.

---

• Na mesma linha do uso da imagem de uma jornalista famosa descrito acima, há também a proliferação de textos falsamente atribuídos a autores renomados, tema do artigo “A Era de Ouro do Analfabetismo Crítico”, do escritor Sérgio Rodrigues. Recentemente uma crônica em forma de diálogo intitulada “Como fazer amor”, atribuída ao escritor colombiano Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de literatura em 1982, ganhou as redes. Para Rodrigues, o fenômeno das citações falsas tem impactos também fora das redes. Ele relembra o caso em que o ministro do STF Luiz Fux citou, durante discurso em 2020, um “Drummond falsificado”. Para ele, as falsas citações prenunciaram conteúdos inverossímeis gerados por inteligência artificial. [João Pedro Capobianco, repórter]

• O bloqueio de aplicações como o do X pode parecer novidade, mas já existem vários casos documentados. A plataforma bloqueios.info criou uma linha do tempo das ocorrências, com análise e atualização dos desdobramentos das decisões. Na seção Bloqueioteca dá pra saber, por exemplo que o primeiro caso registrado no Brasil teria sido em 2007, com a suspensão temporária do YouTube por conta de uma liminar com sentido dúbio que determinou o bloqueio de acesso a vídeos com conteúdo íntimo da modelo Daniella Cicarelli e seu namorado à época, Renato Malzoni. [Ana D’Angelo, editora-assistente]

• É importante que jornalistas estejam em contato com estudantes no ambiente escolar, em atividades de letramento digital e que ajudem a retomar a confiança das novas gerações no jornalismo: esta foi a conclusão da mesa “A educação no combate à desinformação”, que aconteceu no 8^o Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. E é também o que o Jornal EMOT faz na prática. O projeto de educação midiática aborda o cotidiano de estudantes de 7 a 15 anos de uma escola no Rio. “Comecei a fazer coberturas pequenas, dentro da escola mesmo, como uma jornalista normal”, conta Kamilly. Ela fez parte de uma equipe que entrevistou o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, em uma atividade do G20. “Foi lá que eu percebi que, em vários fóruns da internet, há muitas fake news, e que isso é algo que muitos jovens, e também adultos, podem cair facilmente”. [Victor Terra, analista de Educação]
  

• Em vez de usar táticas repressivas tradicionais, os autocratas modernos estão adaptando seus métodos para monopolizar o poder. Atacar a imprensa é uma forma de corroer a democracia por dentro. No artigo que acaba de publicar na revista acadêmica American Behavioral Scientist intitulado "Wolves in Sheep’s Clothing: The Autocratic Subversion of Brazil’s Fourth Estate" (“Lobos em pele de cordeiro: a subversão autocrática do quarto estado brasileiro” em tradução livre), a socióloga brasileira Luiza Monetti se debruça sobre o discurso online mantido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no X e no YouTube entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 e mostra como ele passou esse período todo retratando a imprensa como sendo pouco confiável, obsoleta e inimiga do povo. [Cristina Tardáguila, repórter e fundadora]
  

---

Conheça nossa política de privacidade.