🔎 Golpistas de olho no que os famosos dizem
#145: Programas de entrevistas são usados em fraudes com roteiros que se repetem, mas enganam
Olá, aqui é a Luciana Corrêa, editora-chefe interina, e nesta edição da Lente a repórter Gabriela Soares conta como golpistas estão usando entrevistas reais dadas por personalidades conhecidas para forjarem diálogos falsos e, assim, divulgarem plataformas de investimentos nada confiáveis. O esquema envolve a criação de uma conversa imaginária, uma falsa notícia e não perdoa nem mesmo um famoso padre cantor. E hoje também temos um convite especial da Lupa para você no final desta newsletter. Boa leitura!
Reinventando a fraude: golpistas criam diálogos falsos em entrevistas reais para enganar
Para uma mentira que convença, um fundo de verdade. Parece ser essa a máxima usada por golpistas que têm se aproveitado de situações reais para divulgar ferramentas ou soluções milagrosas — e de origem duvidosa — para lucrar. Recentemente a Lupa desmentiu publicações envolvendo o nome do padre Fábio de Melo. Os golpistas usaram uma ida real dele ao programa The Noite com Danilo Gentili, do SBT, para forjar um diálogo — que não aconteceu na entrevista verdadeira — no qual ele teria revelado o “segredo” de sua renda extra e como consegue ganhar dinheiro fácil com uma ferramenta que utiliza inteligência artificial para negociar criptomoedas.
Para dar maior credibilidade à história, os criminosos utilizaram o layout do site da Globo e atribuíram o texto inventado ao principal telejornal da emissora, o Jornal Nacional. Mas não para por aí. Para chamar atenção das vítimas, os golpistas adicionaram uma pitada de alarmismo ao dizer na “reportagem” que a entrevista do padre ao talk show teria sido “interrompida por uma ligação do Banco Central do Brasil, exigindo a imediata suspensão do programa” — o que também é falso.
A mesma tática foi usada em um golpe investigado pela Lupa em maio. Naquela versão, os criminosos aproveitaram uma entrevista da jornalista Daniela Arbex ao programa Provoca, da TV Cultura, para criar uma conversa na qual ela também “promovia” uma ferramenta de investimentos — igualmente milagrosa. Dessa vez, quem teria ficado incomodado com a tal “revelação” foi o “Banco Nacional do Brasil” — que nem existe.
E vale citar que o sacerdote e a jornalista não foram os únicos que tiveram suas entrevistas usadas para criar diálogos falsos, promovendo soluções milagrosamente lucrativas. O mesmo roteiro foi usado com a apresentadora Nicole Bahls, a cantora Ana Castela e a modelo Yasmin Brunet.
Embora as ferramentas oferecidas tenham nomes diferentes, a promessa era a mesma em todos os textos: a pessoa se cadastra, aguarda um corretor que irá ajudá-la com os primeiros passos na plataforma, investe o valor mínimo de R$ 1.200 e espera o retorno financeiro. Somente depois da realização do registro — feito pela Lupa a partir de dados inventados — é que foi possível identificar o nome por trás do suposto milagre lucrativo: a Novir Markets Ltd, uma empresa de investimentos operada em um paraíso fiscal e que já tem queixas não respondidas no Reclame Aqui.
Em uma dessas reclamações, uma pessoa afirma ter sido enganada pela empresa. Ela narra que após depositar US$ 960 — o equivalente a pouco mais de R$ 5 mil —, um gestor de investimentos da empresa a pressionou para aplicar o valor em ações de petróleo, prometendo ganhos rápidos. Contudo, depois da aplicação, o corretor deixou de responder e a pessoa não conseguiu resgatar o dinheiro investido, além de ter parado de receber contatos da Novir.
Esse é mais um caso que mostra como personagens e acontecimentos reais — como as entrevistas, que, de fato, aconteceram — são exploradas para criar factoides e enganar investidores desavisados, potencialmente vítimas de fraude.
Outro exemplo de como esse tipo de estratégia é usada na prática por golpistas é a falsa indenização de R$ 30 mil da Serasa, desmentida pela Lupa em abril. Neste esquema, os criminosos se aproveitaram de uma ação verdadeira do Ministério Público Federal contra a empresa por um suposto vazamento de dados em 2021. Na ação, o MPF solicita indenizações que, de fato, podem chegar a R$ 30 mil. Contudo, o processo está em tramitação.
Novamente, os golpistas utilizam — sem nenhuma surpresa — notícias falsas para divulgar a fraude. Nessas “reportagens” fornecem links para o site da suposta indenização, que imita o layout da página da Serasa. É nele que o golpe se concretiza. Além de obterem os dados pessoais da vítima a partir de um cadastro solicitado na página, os criminosos pedem uma taxa para que o usuário “saque” os valores. Assim, lucram com os dados, que podem ser aproveitados em outros esquemas, e com o dinheiro, nunca mais visto pela vítima.
Se você vem acompanhando as edições da Lente, em algum momento já viu a conclusão deste texto. É uma recomendação tão simples quanto fundamental nos tempos de hoje, em que somos expostos a centenas de ofertas e informações todos os dias: desconfie sempre! Vale uma busca no Google, no Reclame Aqui, no site da suposta notícia e uma verificada na ferramenta Detector de Site Confiável do Reclame Aqui, que alerta para sites potencialmente enganosos. E, claro, você pode passar também no site da Lupa para dar uma conferida em todos os golpes que já foram verificados pela nossa equipe (e não são poucos).
Quando mal usada, a IA pode causar muitos danos. Exemplo disso é quando, associada à misoginia, vira um crime que nem sempre é tratado da forma correta pela polícia. É isso que mostra reportagem recente da BBC Brasil. A situação narrada por uma mulher vítima da fabricação de imagens pornôs falsas já não é, infelizmente, novidade (a Lupa também falou sobre isso aqui), mas constata como o uso da inteligência artificial para atacar mulheres ainda não é tratada com a seriedade que merece pelas autoridades, nem pelas plataformas digitais. Neste caso, uma jovem e a sua mãe de 65 anos tiveram fotos manipuladas e divulgadas como reais. A vítima investigou por conta própria e chegou a um grupo que cobrava R$ 15 pelo acesso a comunidades no Telegram que produzem e compartilham conteúdos pornôs produzidos por IA. [Luciana Corrêa, editora]
Chegou a hora de reconsiderar as formas de avaliação de ensino e aprendizagem no Brasil, e a inteligência artificial pode desempenhar um papel crucial nesse processo. Quem diz isso é Seiji Isotani, membro do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e presidente da Sociedade Internacional de Inteligência Artificial na Educação (IAIED Society). Em entrevista à Lupa, Isotani falou sobre “IA desplugada”, a regulamentação da inteligência artificial e dividiu experiências que estão sendo desenvolvidas no Brasil, como um aplicativo criado durante a pandemia para a correção automática de textos escritos à mão por crianças. Se você se interessa pelo assunto educação e IA, vale o clique. [Raphael Kapa, coordenador de Educação]
A gente sabe que os aplicativos de mensagem são terreno fértil para o compartilhamento de desinformação – mas também acreditamos que podem ajudar a repassar informação verificada. Por isso, a Lupa tem um canal de transmissão no WhatsApp. Assim, você pode acessar nossos conteúdos para compartilhar no grupo da família, do prédio… Se você curte os canais do WhatsApp, clique aqui para seguir o da Lupa. [Joyce Lima, coordenadora de Audiência e Engajamento]
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Obrigado por trazer à tona um tópico tão importante. Sua matéria oferece uma visão valiosa sobre como os golpistas estão se adaptando e aproveitando a influência dos famosos. É crucial que mais pessoas estejam cientes desses riscos."