🔎 Os monstros desinformativos do debate
#147: Como nasce e se cria uma narrativa com muitas nuances falsas e verdadeiras
Oi. Eu sou Marcela Duarte, gerente de Produto, e venho aqui com a missão – e a honra – de escrever a primeira Lente nas Eleições 2024. De hoje até o fim da cobertura eleitoral, estarei acompanhando mais de perto (e, muitas vezes, com a mão na massa) a Lente, enquanto nossa redação está focada na produção de checagens, verificações e reportagens. Para manter o nível do nosso Jornalismo, conto com reforços de peso: se juntam a mim a Natália Leal, diretora executiva e que me editou; Cristina Tardáguila, fundadora da Lupa e que traz informações à la 🔥Ebulição, a mais nova newsletter da casa; Nathália Afonso e Flávia Campuzano, com quem divido a área de Produto. E todas nós trazemos hoje uma Lente quentinha, recém saída do forno, com o que rolou no debate de São Paulo na noite desta quinta. Espero te rever por aqui muitas vezes nessa cobertura. Boa leitura!
Onde nascem (e morrem) os monstros da desinformação
Uma das maiores polêmicas do primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado nesta quinta-feira (8) pela Band, foi lançada ainda na primeira hora do evento, por Tabata Amaral (PSB). “O candidato que está ao meu lado [Pablo Marçal] foi condenado por formação de quadrilha num esquema de fraudes bancárias”, disparou ela.
A frase foi rapidamente classificada com a etiqueta Exagerado pela redação da Lupa, que fez a cobertura em tempo real. Isso porque, segundo a metodologia, a afirmação é imprecisa. Marçal de fato foi condenado em 2010, mas não exatamente por “formação de quadrilha”, e sim pelo “delito de furto qualificado”. A pena ficou em quatro anos e cinco meses de reclusão e 58 dias-multa em regime semiaberto.
O candidato do PRTB, por sua vez, foi rápido em dizer, de forma truncada, que não havia condenação para o crime apontado por Tabata. Primeiro, negou. Passado o susto, se contradisse. Ao responder a Guilherme Boulos (PSOL), afirmou que “a condenação foi prescrita". Ou seja, admitiu que havia uma condenação, mas que prescreveu.
Senta que lá vem história.
Segundo a sentença, Marçal “cuidava da manutenção dos equipamentos de informática” de um grupo criminoso que praticava furtos na internet e realizava “a captação de listas de e-mails para a quadrilha” por “ele integrada”. O juiz diz que o réu “atuava de forma secundária, dando suporte” aos criminosos, e não era o responsável “pela concretização material dos furtos cibernéticos”.
A pena foi extinta em 2018, por prescrição retroativa (quando o tempo transcorrido é maior do que o tempo da sentença), já que a condenação se referia a um crime praticado em 2010.
Mas o imbróglio não termina aí. Quando respondeu Tabata no susto, Marçal complementou dizendo que, se houvesse condenação, ele deixaria a disputa imediatamente. Foi o prato cheíssimo para Boulos, que, sem perder tempo, botou fogo no parquinho dizendo que estava publicando a sentença em suas redes sociais.
Às quatro da manhã desta sexta (9), Marçal era o #1 dos trending topics Brasil no X (antigo Twitter). Às 9h, ainda estava em terceiro lugar entre os assuntos mais comentados na rede social.
Muitos monstros da desinformação nascem na imprecisão, mesmo que ela não seja intencional. Resta saber onde — e se — esses monstros morrem.
E este foi só o primeiro debate.
Mais de 800 mil pessoas receberam em três horas (das 22h da quinta-feira, 8, à 1h desta sexta, 9) mensagens em grupos públicos de WhatsApp ou Telegram mencionando ao menos um dos cinco candidatos à prefeitura de São Paulo que participaram do debate da Band. Uma análise das 450 mensagens captadas pela ferramenta Palver mostra que Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição, foi o mais mencionado – apareceu em 129 mensagens distribuídas para 673 mil pessoas. Guilherme Boulos (PSOL) ficou em segundo, citado em 93 mensagens enviadas a 512 mil usuários. As nuvens de palavras geradas a partir das conversas de WhatsApp sobre eles estão aqui e aqui, respectivamente. [Cristina Tardáguila, repórter e fundadora]
No Rio, a conversa sobre o debate da Band nos aplicativos de mensagem teve mais mensagens, mas menos alcance e engajamento. Nas três horas de análise (das 22h à 1h), 649 mil pessoas receberam conteúdos em grupos públicos citando ao menos um dos cinco candidatos que participaram. Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição, e Delegado Ramagem (PL) dominaram as menções nas 561 mensagens computadas pela Palver. Cada um foi nomeado em 22 conteúdos, mas os que tratavam de Paes impactaram cinco vezes mais pessoas do que os que citavam Ramagem: 179 mil contra 36 mil. Paes foi chamado de "filho abandonado do Pezão". Ramagem recebeu elogios em grupos de direita. [CT]
Quer acompanhar o que está fervendo em grupos públicos de WhatsApp e Telegram sobre as eleições no Rio e em SP? Assine aqui a 🔥Ebulição. A newsletter gratuita tem duas edições por semana sobre Rio e outras duas sobre SP. O conteúdo é produzido a partir da ferramenta de monitoramento desenvolvida pela Palver, parceira da Lupa no projeto. [MD]
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) restringiu o uso de conteúdos produzidos por inteligência artificial nas Eleições 2024, mas as primeiras decisões sobre deepfakes mostram a dificuldade da Justiça em estabelecer padrões para as análises – e a falta de regulação de IA é um dos motivos. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) negou ação do MDB contra a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que, em abril, publicou um vídeo com o rosto do prefeito Ricardo Nunes no corpo de Ken, do filme Barbie (2023). A corte afirmou que a peça não representa propaganda eleitoral antecipada e que não “utiliza deepfake”, conforme o Desinformante. [Nathália Afonso, analista de projetos editoriais]
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