🔎 Fogo e fakes se alastram pelo Brasil
#150: Enquanto queimadas devastam interior de SP, desinformação mira política e incendeia redes
Oi, Marcela Duarte, gerente de Produto, chegando para apresentar a 150ª edição da Lente! Ao longo de todas essas semanas em que você recebeu a newsletter, ela mudou, transmutou e, desde abril, destrincha, em detalhes, uma narrativa desinformativa, conectando pontos e desdobrando impactos. Nesta edição, Nathália Afonso, analista de Projetos Editoriais, esmiúça conteúdos falsos sobre as queimadas que se alastraram pelo Brasil e, em especial, em São Paulo, que há muitos anos vêm sendo usados de forma política. Boa leitura!
O uso político das narrativas desinformativas por trás das queimadas
Pautas ambientais vêm sendo usadas há anos como ferramenta para desinformar e manipular a opinião pública, especialmente na seara política. Nas últimas semanas, incêndios florestais se alastraram pelo Brasil e devastaram o interior de São Paulo, enquanto posts nas redes sociais tentavam culpabilizar organizações ou acusar autoridades de inação.
Diversas publicações passaram a apontar, sem provas, o envolvimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) com queimadas. Uma imagem compartilhada pelo WhatsApp indicou que um integrante do movimento teria sido preso em flagrante – o que é falso.
O homem que aparece na imagem é Lucas Vieira, preso em flagrante após atear fogo em um pasto de uma propriedade rural em Bom Jardim de Goiás. Segundo a Polícia Civil de Goiás, não há provas de que o homem preso seja membro do MST. O MST informou à Lupa que não há acampamento do movimento na cidade em que ocorreu o crime.
O preso contou para a polícia que teria recebido R$ 300 para atear fogo em uma fazenda a pedido de um homem chamado Rogério, o que ainda está sob investigação.
Essa não é a única publicação que relaciona o MST com queimadas. Um tuíte indica que o MST estaria planejando incêndios criminosos em reuniões com o governo Lula. Na busca por credibilidade, o post traz o print de um texto que teria sido publicado pelo MST em abril deste ano: “Vamos incendiar o agro no Brasil”.
Não há registro de que o MST teria feito essa afirmação. O movimento se pronunciou sobre o caso e afirmou que as acusações sobre o seu envolvimento nos incêndios eram falsas.
“Essas alegações sem fundamento têm como único objetivo desviar a atenção das verdadeiras causas dos incêndios e nos criminalizar por lutarmos por uma Reforma Agrária justa e sustentável.”
Cinco anos atrás, em agosto de 2019, o Brasil presenciou uma grande incidência de focos de incêndio na Amazônia, episódio conhecido como “Dia do Fogo”. Naquele ano, circularam vários boatos indicando que um membro do MST teria sido responsável por atear fogo e, posteriormente, teria sido preso.
A manipulação da narrativa sobre as queimadas não se restringe à acusação ao MST. Outras publicações apontam que o governo estadual de São Paulo teria feito recomendações equivocadas para a população. Uma imagem compartilhada no WhatsApp afirma que a Defesa Civil do Estado de São Paulo teria emitido um comunicado pedindo para que as pessoas não saíssem de casa na região de Ribeirão Preto (SP) em razão das queimadas. A cidade fica em uma das áreas mais afetadas pelos incêndios em São Paulo, e diversas pessoas tiveram que abandonar suas casas em meio à fumaça.
A Defesa Civil disse, em nota à Lupa, que desconhece qualquer tipo de mensagem com esse teor. Ou seja, a imagem compartilhada no WhatsApp é falsa.
O que sabemos até agora
É consenso que os incêndios em São Paulo foram causados pela ação humana. A Polícia Civil de São Paulo já apreendeu sete pessoas suspeitas de causar as queimadas:
27/8: homem de 32 anos preso em flagrante ao atear fogo em uma mata à beira da Rodovia SP-075, em Salto;
26/8: homem de 44 anos preso por causar incêndio em vegetação em São José do Rio Preto;
26/8: homem de 49 anos preso em Jales;
26/8: homem de 27 anos preso em flagrante após atear fogo em uma área de pastagem em Batatais;
25/8: homem de 42 anos preso em flagrante por atear fogo em vegetação em Batatais;
24/8: homem de 76 anos preso por atear fogo em lixo, em uma área de mata em São José do Rio Preto;
21/8: homem de 26 preso em flagrante por atear fogo em vários pontos de um canavial em Guaraci.
O governo de São Paulo alerta para os perigos dos incêndios florestais, ressaltando que a maior parte ocorre devido à ação do homem. Caso aviste alguma queimada em mata, informe imediatamente o Corpo de Bombeiros (193). Caso aviste algum post falando sobre incêndios florestais nas redes sociais, desconfie e, na dúvida, não compartilhe.
Boa parte do Brasil parou na noite desta quinta-feira (29) para ver o X sair do ar – o que não aconteceu. A expectativa era grande já que, na quarta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes havia intimado o dono da plataforma, Elon Musk, a apresentar, em 24 horas, um novo representante legal para o X no Brasil. Detalhe: como a empresa não tem mais representação no Brasil, a intimação foi feita no tuíte em que a X anunciava o fechamento do escritório. A empresa disse que não cumprirá ordens do magistrado; Moraes, por sua vez, determinou o bloqueio de contas da Starlink para garantir o pagamento de multas do X. Longe de terminar, o embate entre Musk e Alexandre de Moraes já foi assunto na Lente da sexta-feira passada, quando mostramos que as fakes sobre fraudes eleitorais — nunca provadas — estão no centro da celeuma. Dados da Palver, ferramenta de monitoramento de grupos públicos de WhatsApp e Telegram parceira da Lupa nestas eleições, mostram que telefones registrados em 26 estados do Brasil dispararam mensagens sobre a disputa entre o X e o STF nas últimas 48 horas. A fundadora e repórter da Lupa, Cristina Tardáguila, detalha esse movimento em sua coluna 🔥Ebulição no Meio de sábado (31). Clique aqui para assinar a 🔥Ebulição que a Lupa dispara de segunda a quinta-feira e aqui para assinar o Meio. [Nathália Afonso, analista de Projeto Editoriais]
Essa é para quem quem cansou de dar match e a conversa não render. O InPress é um aplicativo de relacionamentos baseado no consumo de notícias dos usuários. A premissa dos criadores é que “interesses baseados em notícias encontram conexões verdadeiras”. Para saber se essa premissa é verdadeira, os brasileiros terão de esperar um pouco, já que o app ainda não funciona por aqui. O lançamento começou nesta quinta-feira (29) em Washington DC (EUA) e ainda não há previsão de lançamento internacional. Por enquanto, veja o vídeo (em inglês) que fala um pouco mais sobre o app. [Marcela Duarte, gerente de Produto]
A capacidade de uma pessoa discernir informações verdadeiras e falsas é prejudicada durante os períodos eleitorais. “Quanto mais próxima a eleição, mais nossas posições político-partidárias influenciam nossa percepção da verdade”, aponta artigo intitulado “Crenças sobre Notícias Políticas no Período que Antecede uma Eleição”, de Charles Angelucci, Michel Gutmann e Andrea Prat. Para saber mais sobre o artigo, confira a coluna do Redes Cordiais no Metrópoles. [NA]
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